O homem, este solitário andante
galáctico que perscruta a Deus, o qual se oculta na imensidão do Universo,
jamais poderá compreender esta Sua ocultação usando apenas a razão, porém será
justamente a razão que elaborará ao homem uma condição de dignidade que possa
torná-lo confiante numa fé que busque Deus, o qual, absolutamente, se faz assaz
presente pela própria graça de se ocultar – coisa própria de Deus e não poderia
ser de outra forma: desde que é Deus, Deus, que está bem próximo ao nada,
confunde a humanidade, a qual sempre se incorre na empreita de buscá-Lo apenas
por uma razão inexorável à fé, isto é, uma razão que não se move à luz de uma
fé.
Pela visão humana esta fé sem
razão é algo que está mais próximo ao nada, contudo uma fé cooperada pela razão
torna o homem próximo à visão espiritual de Deus. Desta maneira, prescindida em
tal reflexão interior, as dualidades não devem ser encaradas como portadoras de
contrariedades, mas sim cooperadoras para o esforço humano de encontrar Deus.
Por exemplo, se considerarmos o
leigo da Igreja desempenhando uma atitude de vida baseada exclusivamente na fé,
uma vez que torne a vida secular sem razão alguma para o desempenho de seus
exercícios espirituais dentro da comunidade paroquiana, então poderá
incorrer-se num erro sem igual, quando os mesmos católicos e também leigos num
certo momento denominem, a Igreja, como uma Instituição e n’outro momento como
o Corpo Místico – onde Cristo é a cabeça e o Espírito Santo é também sua alma[1].
Estaremos nós católicos
preparados para enfrentar somente com a fé os desafios que uma Instituição
terrena e secular merece? Por outro lado, uma fé que se empenhe em auto fermentar-se,
geralmente, trará bons esclarecimentos sobre a Igreja como Corpo de Cristo? Mas,
como ficam então a secularização, a Instituição e a organização pastoral, inerentemente,
ligadas à Igreja? Em que se pautam? Pautam-se exclusivamente na fé? – De certo
que não, pois bem sabido que deve existir uma importante dose de razão para
levar a cabo os desafios cristãos.
Contudo, aquele erro – mais acima
classificado – ocorre apenas quando se tenta praticar uma fé sem base
argumentativa razoável [razão]. Tal erro, sem a Providência Divina, resultará
ao homem numa nefasta onda de intransigência e intolerância gerando por ele uma
ressignificação àquela instituição do mundo secular, logo incorrendo certa
ruptura em suas próprias bases secularistas garantidas hoje muito mais por um
Estado Democrático de Direito do que por uma moral cristã. Se o próprio termo
Instituição é tão mais argumentado por ordenamento jurídico próprio, então
tanto mais este mesmo termo precise ser purgado para o real significado ao qual
Cristo quer para sua Igreja; porém não o argumentando pela fé, e sim por
razões.
Assim, qualquer ressignificação
razoável com a fé sempre renovará o homem em seu mundo para fortalecê-lo em sua
busca a Deus através do Novo Homem, o Cristo Nosso Senhor Jesus, no entanto, se
uma ressignificação razoável sem a fé torna tudo mais difícil, então de igual
maneira uma fé sem uma ressignificação razoável não atenderá se quer as
necessidades que os oprimidos estão configurados no mundo que vivemos
atualmente.
Tanto quanto, pelo fiel leigo,
que queira, apenas e tão somente pelo único e exclusivo exercício de fé, entender
uma Igreja que possua como alma o Espírito Santo, concedido pelo Pai através
dos méritos de Cristo, seu Filho, tão mais indispensável será a resposta que o
próprio homem deve dar a si mesmo através de sua humanidade corpórea que só
pode ser assentida por uma significação razoável, isto é pelo uso de sua
própria razão, para estabelecer o sentido de sua busca por Deus que está
oculto. Ora, nisto podemos observar como o homem depende de sua natureza humana,
uma vez também caracterizada por sua razão. Igualmente, esta mesma razão que não
contraditoriamente possuí sua origem na própria e inerente criação humana e que
é subordinada à natureza espiritual e divina[2] – a qual por ter sua
origem em Deus e por Graça do próprio Deus – concede a cada homem uma alma.
Portanto, se ao leigo seja indispensável esta reflexão, quanto mais será
insubstituível ao ordenamento religioso como reflexão ímpar que possibilite o
acolhimento dessa Igreja que é também Mãe a aqueles seus filhos queridos que
ainda careçam de um entendimento sobre a mediação que o Espírito de Deus dá
entre a razão e a fé.
O Conclave
terminou. Meu conclave interior [por hora] também acabou. A Igreja e seu
caminhar nos apresentam a riqueza de sua Alma, o Espírito Santo e, desta mesma
Igreja, desejo cada dia mais conhecê-la, respeitá-la e, sobretudo amá-la nas
ações do Santo Padre Francisco. Entretanto, ela deve estar atenta para não
eximir-se de considerar de mim o meu todo, este mesmo todo que é a intensidade
como o Cristo quer que ame o Pai, com toda minha inteligência, com toda minha
alma, com toda minha força: razão e fé, portanto.
[1] Leão XIII pp; encíclica Divinum illud múnus, 1897:DS 3328; apud: L’Osservatore Romano nº 28, 11 de julho de 1998.
[2] (BOEHNER e GILSON. História da filosofia cristã, 13 ed., 2012, p. 451.) Apud S. Tomás de Aquino, Summa contra gentiles I,7